sábado, 7 de novembro de 2015

9 Ab-rogação do Corão



Quando vivia em Meca, Maomé estava rodeado de inimigos. Ainda que nessa lançasse ameaças, nunca se comportou de forma violenta. Agora já era uma força política e decidiu cumprir as ameaças do passado. O Corão reflete de forma clara esta mudança. Tanto é que ele é dividido em Corão de Meca e Corão de Medina. Dado que ele não está em ordem cronológica, fazer esta distinção não é uma tarefa simples para um secular. No entanto, depois que se ordena o Alcorão cronologicamente fica fácil de ver.

Excerto do Corão de Meca:
88:21-24 Admoesta, pois és um admoestador sem autoridade sobre eles. Quanto àqueles que viram as costas e se afastam, Deus lhes inflingirá o castigo maior.

Comparemos com o Corão posterior de Medina:
8:12-14 E quando teu Senhor disse aos anjos: “Sim, estou convosco. Fortificai os crentes. Infundirei o terror no coração dos descrentes. Separai-lhes a cabeça do pescoço; batei em todos os seus dedos.” Assim castigamos porque romperam com Deus e Seu Mensageiro. E quem rompe com Deus e seu Mensageiro, Deus pune com rigor. E dissemos-lhes: Provai Nosso flagelo. Aos descrentes reservamos o suplício do fogo”.  

Maomé deixou claro que sempre que houvesse uma contradição no Corão, o verso mais antigo seria ab-rogado (ficaria substituído) pelo mais recente. Como o Corão não foi compilado seguindo uma ordem cronológica, fica impossível compreender o texto sem saber quais os versos foram ab-rogados. Os muçulmanos frequentemente destacam as partes não violentas do Corão de Meca, mas não são capazes de dizer que estes versos foram substituídos por versos posteriores.
Agora quero que prestem atenção, porque vou explicar uma faceta muito importante do Islã que parece um tanto complexa, mas que é relevante para compreendê-lo.
Tal como vimos, os versos posteriores do Corão substituem os que foram escritos antes e já sabemos que o Corão é considerado a palavra perfeita de Alá. De acordo com a lógica ocidental, quando duas coisas se contradizem uma a outra, uma deve estar equivocada. Porém a lógica islâmica opina que duas coisas podem se contradizer e ao mesmo tempo serem as duas corretas.
O Corão diz aos muçulmanos que sigam o exemplo de Maomé, mas qual exemplo? Em Meca, Maomé nunca usou a violência contra os kuffar e ao início até se mostrava um tanto tolerante com outras religiões. Uma vez em Medina, Maomé recorria a violência quase todo o tempo para conseguir seus objetivos e não mostrava a mínima tolerância aos kuffar.
O Corão de Medina é posterior e portanto ab-roga os versos do Corão de Meca mas, este último continua sendo válido, porque o Corão (e Maomé) é perfeito. Então um muçulmano pode seguir qualquer dos dois exemplos, ainda que seja melhor o de Medina porque é posterior. Então, como se sabe qual escolher? Como de costume, devemos nos fixar no exemplo de Maomé. Em Meca, Maomé não era poderoso e estava rodeado de inimigos. Durante esse tempo, ele pregava a tolerância e a não violência. Quando emigrou a Medina, se converteu em um homem poderoso e empregava a violência com frequência para conseguir suas metas.
O exemplo de Maomé sobre como deve se comportar um muçulmano não é sempre coerente mas varia de acordo com as circunstâncias. Quando você não se encontra em uma situação de poder, é melhor se calar e não chamar atenção. Deve-se aproveitar esse tempo para aumentar sua força e o número de seguidores, até obter o poder necessário para iniciar a jihad. Este é o exemplo de Maomé, ou “Sunna”, que aparece nos hadices (tradições de Maomé) e na Sira (sua biografia).

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