sábado, 7 de novembro de 2015

1 Primeiros anos



(Se o leitor pensa que escrevi este livro com um propósito sinistro ou para fomentar dano aos muçulmanos, por favor, comece pelo final e leia primeiro o apêndice).

Maomé nasceu no ano de 570 d.C em uma cidade chamada Meca, situada no país que é hoje a Arábia Saudita. Naquela época, a Arábia não era um país, tratava-se de uma área habitada por uma série de tribos. Era, e ainda é, em sua maior parte, um lugar quente, seco e inóspito em que as pessoas sobreviviam graças ao pastoreio de ovelhas e cabras e às tamareiras que se cultivavam ao Norte. As inimizades entre famílias eram frequentes e, em geral, se dirimiam fazendo-se cumprir o princípio do olho por olho e dente por dente. Em algumas ocasiões se pagava com “moeda de sangue” (a morte de outra pessoa) para resolver um assassinato.
Meca era uma cidade santa e um centro religioso para todo tipo de religião. Havia um edifício chamado Caaba, onde se encontrava uma pedra sagrada, que se acredita provir de um meteorito. Também havia um poço, cuja agua se considerava sagrada e tinha propriedades medicinais. Tribos de todas as partes da Arábia se dirigiam a Meca para venerar diversas deidades. Inclusive havia alguns cristãos e judeus que viviam na cidade; era tudo multicultural. Maomé provinha da nobreza de Meca, os Coraixitas; e seu clã era os Hachemitas. O principal deus dos Coraixitas era Alá, o deus da lua (por isso todas as mesquitas têm uma lua crescente no alto), ainda que se rendesse culto a muitos outros deuses. Como este era um lugar sagrado, lutar em Meca não era permitido e as brigas aconteciam fora da cidade.
O pai de Maomé morreu antes que ele nascesse e sua mãe faleceu quando ele tinha cinco anos. Seu avô o criou durante o tempo em que ficou vivo e depois que morreu, o tio Abu Talib se encarregou de seu cuidado. Abu Talib era um membro poderoso dos Coraixitas. Ao que parece foi uma figura benevolente que, durante sua vida, protegeu Maomé e o tratou muito bem.
O principal negócio dos Coraixitas era a religião e também ganhavam dinheiro com o comércio. Ao crescer, Maomé foi contratado por uma rica viúva chamada Cadija que comercializava com a Síria. Maomé se ocupava das caravanas e fazia trato com os sírios. A Síria era nessa época um país cristão e muito mais sofisticado e cosmopolita que a Arábia. De fato, era muito mais sofisticada e cosmopolita que a maior parte da Europa. Os árabes tomaram o alfabeto dos cristãos sírios, muito embora a escrita estivesse restrita unicamente às transações comerciais. Nesses anos não haviam livros escritos em Árabe. As tradições religiosas eram transmitidas de forma oral e os cristãos e judeus eram conhecidos como “povo do livro”, posto que possuíam as Escrituras. Maomé se deu bem como comerciante e obteve bons lucros para Cadija. Depois de um tempo, Cadija lhe propôs matrimônio e juntos tiveram quatro filhas e dois filhos [1].
Devido a este ambiente, Maomé conhecia diferentes religiões. Logicamente, estava muito familiarizado com os rituais de seu próprio clã, os árabes pagãos de Meca e muitos desses rituais foram depois incorporados ao Islã. Também havia judeus em Meca e o primo de sua mulher era cristão.  Dado que a maioria das religiões não contava com a palavra escrita, não era raro que as pessoas tivessem diferentes versões de cada religião ou que começassem seu próprio culto.

Dados importantes:
Ser muçulmano significa aceitar que Maomé era o ser humano perfeito. Sua vida é o exemplo a seguir em todos os aspectos possíveis para todos os muçulmanos. Claro que nem todos têm muito êxito nesta tarefa mas o nível de devoção de um muçulmano se mede na proporção em que ele segue o exemplo e os ensinamentos de Maomé. Isto é algo que não se discute no Islã, e por esse motivo é importante conhecer sua história. Inclusive existe uma palavra para descrever o comportamento de Maomé: “Sunna”.


Nota:
Algumas pessoas sentirão que não deveriam ler este livro por seus princípios morais, assim antes de prosseguir, eu gostaria de deixar algo bem claro: sou um grande defensor da liberdade de crença. Pode-se acreditar no que quiser e render o culto do modo que considere mais oportuno. Se um grupo de cristãos deseja orar de um modo estranho ou pouco frequente, isso não me incomoda nem um pouquinho.
Todavia, se este grupo se constitui como uma organização política e intenta influenciar o modo em que funciona a sociedade, então é muito provável que eu preste atenção. Se não estou de acordo com sua visão política ou com seus métodos, farei valer meu direito de criticar essas atividades. Esta não é uma crítica religiosa, é uma crítica política.
Este livro não está interessado no aspecto religioso do Islã e eu  não vou comentar muito sobre suas crenças ou práticas religiosas, exceto quando tenham um aspecto político. O que vou realmente tratar são os objetivos, propósitos e métodos políticos que ficam claramente estabelecidos na doutrina islâmica. O modo como os muçulmanos interagem entre si e com Deus é um assunto religioso e não me interessa. O modo como eles interagem com os não muçulmanos é um tema político e este sim me interessa. Na medida em que a história se desenrolar, ficará claro o motivo (obs.: a palavra “kafir” significa não muçulmano. O plural de Kafir é “kuffar”, ou seja, são os descrentes no Islã, ainda que possam ter outras religiões.NT).

Bibliografia:
A fonte original da maior parte deste material é um livro chamado Sirat Rasul Allah (A vida do profeta de Alá) ou simplesmente A Sira de Ibn Ishaq, que é o estudioso muçulmano mais venerado e digno de confiança de todos os tempos. Esta obra foi escrita aproximadamente cem anos depois da norte de Maomé (por isso é a biografia mais antiga do profeta que chegou até os nossos dias) e é o relato biográfico definitivo da vida de Maomé para aqueles que estudam o Islã.

Foi traduzido ao Inglês em 1955 por um professor de Árabe, A. Guillaume, com o título de The Life of Mohammed. Foi possível completar a tradução graças a ajuda de vários professores de Árabe. Ainda é a tradução inglesa mais utilizada tanto por muçulmanos quanto por não muçulmanos.

Esta tradução direta tem sido simplificada e reordenada de forma excelente por uma organização chamada Centre for the Study of Political Islam (Centro de Estudos para o Islã Político). Também foram incluídos materiais de outras fontes confiáveis que apontam a clareza e o contexto a uma história que antes exigia muito estudo se alguém quisesse entendê-la. O título do livro que publicaram em Inglês é Mohammed and the Unbelievers (Maomé e os descrentes). A maior parte das citações utilizadas neste livro provém dessa fonte (que faz referencia à Sira com um sistema de números na margem contida no texto original).


[1] Só uma de suas filhas, Fátima,  chegou a idade adulta.

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