sábado, 7 de novembro de 2015

29 De Maomé até a atualidade





Depois da morte de Maomé, a metade das tribos da Arábia abandonou o Islã, sem dúvidas aliviadas, e regressaram a suas antigas religiões. Por azar, o Islã não desapareceu com Maomé, e seu sucessor, Abu Bakr, lutou contra eles em uma campanha grande e sangrenta conhecida como as Guerras da Apostasia. Fazendo uso das técnicas da jihad, os obrigou de novo a se submeter ao Islã.
Uma vez que reconquistaram a Arábia, este punhado de homens pobres e sem educação das tribos do deserto irromperam em um mundo que não suspeitava nada, utilizando a jihad para conquistar o Império Bizantino (o que restava do Império Romano no Oriente), o Império Persa, todo o Norte da África e o Norte da Índia. Além disso, conquistaram a Espanha e a Europa Ocidental e chegaram até a Áustria na zona Leste do continente. Estas eram as sociedades mais ricas e avançadas em tecnologia do planeta nessa época. Os governantes muçulmanos mantinham os melhores médicos, arquitetos, cientistas, etc., como dhimmis que serviam ao Islã com seu conhecimento e habilidade.
A princípio, alguns dos califas demonstraram que valorizavam até certo ponto o conhecimento clássico. Em sua época traduziram muitas obras clássicas para o Árabe, graças, sobretudo, aos mutazilitas que predominavam em Bagdá. Já comentaram que a unificação dos Impérios Bizantino e Persa, junto com a adoção forçosa do Árabe em toda a zona, contribuiu para um intercâmbio livre de ideias que cimentou o que se conhece como “Idade de Ouro do Islã”.
Ainda que esta vitória tenha seu mérito, vale a pena destacar que até hoje, os persas (os iranianos agora), não falam Árabe, somente farsi. O que este ponto de vista menciona é o fato de que estas sociedades já fossem centros intelectuais no mundo e que continuaram sendo durante um tempo depois da ocupação islâmica não significa
necessariamente que devamos nada ao Islã. Isto não evitou que o presidente Obama assegurasse - em seu famoso discurso no Cairo- que dita dívida de gratidão existe. Nesta intervenção ele disse para o público: “foi o Islã, em cidades como Al-Azhar, que levou a tocha do ensinamento através de tantos séculos, preparando o caminho para o Renascimento e o Iluminismo na Europa”.
Para compreender os erros neste tipo de raciocínio, é útil ver o modo como terminou a Idade de Ouro.
Em essência os mutazilitas foram derrotados pelos asharitas, que eram muito mais dogmáticos. Sua forma de pensar se baseava mais na doutrina islâmica da predestinação, que insiste em que cada acontecimento que tem lugar no universo é dirigido pessoalmente por Alá. Argumentavam que ainda que as coisas em geral sempre funcionem do mesmo modo, isso não era mais do que costume. O exemplo típico que se dava era: “só porque sempre se vê o rei andando a cavalo nas ruas não significa que um dia não ande pelo seu reino a pé”.
Dado que Deus regula cada átomo do universo, não existe motivo pelo qual uma maçã que amanhã caia de uma árvore opte por se lançar ao ar ao invés de cair no solo. Isto é o oposto a doutrina de “causa e efeito” que serve de base para todo o conhecimento científico moderno.
Parece pouco provável que esse tipo de ideia tenha sido capaz de chegar a nossos dias sem a ajuda da doutrina islâmica, mas o certo é que chegou. Isto pode nos ajudar a explicar os seguintes dados e estatísticas que muitos acadêmicos não são capazes de compreender na atualidade:

1)  Nos últimos 700 anos o mundo islâmico não trouxe nem um só invento nem descobrimento científico de certa importância [1].
2)  A cada ano se traduz mais livros em Inglês (ou outra língua) do que o total de livros que se traduziram do Árabe nos últimos 1.000 anos [2].
3)  Das 1800 universidades do mundo islâmico, tão só uma sexta parte conta com um membro do claustro que haja publicado algo[3].
O Cristianismo e o Judaísmo, em maior medida que o resto das religiões, se baseiam na liberdade de escolha. Claro, houve épocas, sobretudo quando a Igreja Católica estava no auge do poder, nas quais a Igreja se esforçou para restringir o pensamento livre. Todo mundo sabe que o papa Urbano VIII mandou encarcerar Galileu por demonstrar que o sol e as estrelas na realidade não giravam ao redor da Terra. Apesar disso, a ideia foi aceita com rapidez, o que sugere uma cultura muito receptiva a lógica e a razão.
Ao contrário, quando o brilhante filósofo espanhol e muçulmano Averroes foi exilado em Marrocos e muitos de seus livros foram queimados, sua obra desapareceu do mundo islâmico. Unicamente se reconheceu sua importância quando os pensadores cristãos, como Tomás de Aquino, redescobriram seus escritos.
A liberdade de pensar, falar, debater e questionar a ortodoxia é algo inerente a doutrina cristã mas que falta no Islã. Isto (em lugar de qualquer superioridade genética ou vantagem militar) seguramente foram os principais fatores que impulsionaram a explosão de conhecimento científico e tecnológico que, a partir do Renascimento e até a apenas umas poucas décadas, era uma conquista praticamente ocidental (cristão e judaico).
Outro problema que atormentava o Islã era a degradação do meio ambiente. O Norte da África nem sempre foi um deserto. Tanto Cartago como Egito eram impérios poderosos nesta zona que desafiaram a supremacia de Roma. Os impérios não florescem nos desertos, o fazem em lugares de abundância. O Egito era o celeiro da Europa, com uma terra fértil e água do Nilo. Toda a zona do Norte da África era uma terra de cultivo produtiva.
Os árabes não eram agricultores, eram pastores de cabras. Quando conquistaram os territórios do norte da África, os muçulmanos criaram as cabras nas terras de cultivo dos dhimmis cristãos, que não puderam detê-los[4]. Amostras de sedimentos do leito marinho do mediterrâneo sugerem que produzem uma rápida perda  da capa fértil do solo com a seguinte desertificação na mesma época que tiveram lugar esses acontecimentos. As provas circunstanciais respaldam esta teoria com os dados de uma despovoação que não tardou muito tempo e que teria lógica se a analisarmos desde a perspectiva de um período de fome e uma massiva escassez de alimentos.
O resultado geral tem sido uma lenta e prolongada queda do Islã e um constante crescimento do poder da Europa cristã. Desde o ponto de vista militar, isto foi algo evidente durante bastante tempo, dado que os exércitos islâmicos e os que se dedicavam a captura de escravos causaram durante séculos, sobretudo nos territórios que margeavam as terras islâmicas.
Apesar dos ataques incessantes, os europeus mantiveram os muçulmanos a distância. Agora que já haviam conquistado aos impérios mais ricos e haviam gasto o espólio, os muçulmanos se encontraram dependendo dos dhimmis para obter renda. Para o azar deles, o sistema do Islã está desenhado para obrigar aos dhimmis, de maneira lenta mas firme, a que se convertam ao Islã, o que lhes deixa cada vez menos pessoas produtivas que se ocupam de um número crescente de pessoas que não produzem nada.
O prolongado declive do Islã coincide com a ascensão dos europeus, que se liberam gradualmente do dogma tradicional da Igreja Católica e construindo a base do método científico da Grécia Clássica. Embora ainda se suponha que os muçulmanos levaram este conhecimento até a Europa, não podemos deixar de perguntar se esta informação não havia pego um atalho desde o Oriente Médio, mesmo sem as invasões muçulmanas.
Entre 1000 e 1300 D.C., os europeus responderam ante uma petição de ajuda dos líderes da igreja do Oriente, que estava sendo devastada pela jihad. Um dos objetivos destas “cruzadas” foi proteger a Terra Santa (Israel) para que os peregrinos pudessem visitá-la. Embora as cruzadas não tenham sido um sucesso, o fato de os cruzados terem sido capazes de reconquistar e ficar com as terras dos muçulmanos durante um período de tempo significativo, representou uma incrível humilhação para eles, que ainda estão magoados 700 anos depois. 
Os ataques dos turcos no Leste da Europa representavam uma importante ameaça até praticamente o início do século XVIII e as incursões para capturar escravos dos piratas beberiscos ocasionaram que algumas comunidades costeiras na Europa ficassem despovoadas até o século XIX. No entanto, com o passar do tempo e com o avanço da tecnologia europeia, o Islã ficou cada vez mais em uma posição defensiva. Os europeus continuavam conquistando territórios muçulmanos, mas o golpe de misericórdia para o poder internacional do Islã chegou com a invenção da metralhadora.
Contar com um número de soldados fanáticos e suicidas dá uma vantagem competitiva se se luta com espada, arco e flechas ou então com pistolas que permitem um disparo e depois deve-se carregar com munição de novo. Uma vez que se introduziu a metralhadora nos conflitos, a vantagem da carga de cavalaria ou infantaria desapareceu completamente.
Esta foi uma lição dolorosamente aprendida pelos dois lados na Primeira Guerra Mundial, mas no caso dos muçulmanos, esta industrialização da guerra lhes tirou a vantagem da jihad exaustiva. Ficaram indefesos em um mundo governado por nações que possuíam a tecnologia mais sofisticada e os níveis mais elevados de produção industrial e formação científica.
O Império Otomano turco caiu ao terminar a Primeira Guerra Mundial. O território se dividiu principalmente entre os vencedores britânicos e franceses, que conservaram essas regiões durante trinta anos. Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, a terra foi devolvida ao controle árabe (exceto um atoleiro reclamado que apenas ocupava 1% do Oriente Médio e que carecia de recursos naturais. A ONU entregou este território aos judeus e hoje recebe o nome de Israel).


[1] Pervez Hoodbhoy, The New Atlantis 2011
[2] N. Fergany et al., Arab Human Development Report 2002, United Nations Development Programme[]
[3] Hoodbhoy Pervez: The New Atlantis 2011
[4] Bill Warner. Why we are afraid of Islam, a 1400 year history

Nenhum comentário:

Postar um comentário