sábado, 7 de novembro de 2015

5 Lei Sharia e o Corão de Medina



Desde o início, as coisas foram diferentes em Medina. Maomé já tinha um bom número de seguidores ali, de modo que uma vez que chegaram seus seguidores de Meca, se encontrou com um grupo considerável de pessoas, entre os que se incluíam alguns dos guerreiros mais ferozes de Meca. O mais importante foi que ao contrário das pessoas de Meca, os clãs de Medina já estavam muito divididos. Dado que os muçulmanos queriam permanecer unidos, Maomé se converteu no homem mais poderoso de Medina. Os clãs medinenses também lhe outorgaram o poder de mediar nas disputas, pois acreditavam que ele seria um bom juiz imparcial.
Maomé se dedicou de imediato a consolidar seu poder: mandou construir uma mesquita e uma série de edifícios por perto para seu uso e de seus seguidores e o crescente número de esposas. Escreveu uma carta que seria a base do direito em Medina. Esta lei se fundamentava em dois conjuntos diferentes de normas. Um deles devia se aplicar aos muçulmanos e o outro aos kuffar (infiéis). Estas normas eram conhecidas como a Lei Sharia.
Maomé dividiu o mundo em muçulmanos, os que acreditavam nele, e os kuffar, que não acreditavam. Esta divisão teve reflexo na lei e se converteu na base da religião islâmica.
A partir desse momento, todos os muçulmanos passaram a serem membros de uma nação, conhecida como Ummah e tinham a obrigação de ajudar aos demais muçulmanos, sobretudo nos conflitos contra os kuffar.
Um muçulmanos não pode matar outro muçulmano, nem ajudar a um kafir a matar um muçulmano. Os muçulmanos juravam vingar a violência sofrida por qualquer muçulmano, mas um kafir nunca devia agredir a um muçulmano. Os judeus que foram aliados dos muçulmanos recebiam um tratamento justo. Mas se iam à guerra com os muçulmanos teriam que arcar com parte dos custos. Também estavam obrigados a acudir os muçulmanos se fossem atacados. Maomé era o juiz final em todas as disputas e desacordos. O mundo agora estava dividido em duas partes: a terra do Islã (Dar al-Islam), governada pela lei Sharia; e a morada da Guerra (Dar al-Harb), que compreende o resto do planeta. Esta divisão ainda é hoje em dia um componente chave do Islã.
Este novo código legal converteu os não muçulmanos em cidadãos de segunda classe. Para evitar esta discriminação e devido à pressão que sofriam, muitos árabes se converteram ao Islã, inclusive se não eram realmente crentes. Maomé chamava de hipócritas (munafiqs) estes supostos muçulmanos. Maomé era tão poderoso em Medina que ninguém se atrevia a criticá-lo abertamente. 

Comentários do autor:
A partir deste ponto, a história fica mais chocante e para ser fiel a autenticidade, vou incluir com mais frequência as citações dos livros sagrados do Islã. No entanto, antes de fazer isso, eu adoraria dar ao leitor um pouco de informação sobre os mesmos e sobre como se encaixam entre si.
Estes livros se podem considerar uma trilogia, formada pela Sira (Sirat Rasul Allah de Ibn Ishaq), os Hadices (tradições) e o Corão. A Sira que constitui a base de grande parte do que está escrito aqui, é uma biografia e não necessita de mais explicações. As citações que provém das Siras estarão precedidas da letra “I” seguida por um número correspondente ao número que existem na margem do texto original.
Um hadice é uma história breve ou “tradição”, geralmente ocupa um parágrafo e o narrador é um dos companheiros de Maomé que fala sobre algo que ele disse ou fez. O que é um pouco confuso é que um conjunto de hadices recebe o mesmo nome (hadice). Estas histórias chegaram até nós através de várias versões, um pouco como os provérbios chineses. Muito do que se foi compilado não foi rigorosamente verificado e isso deu origem a hadices que se consideram pouco confiáveis ou “fracos”.
Há dois recompiladores que são mais valorizados de todos: o hadice de Al-Bukhari e o de Abu Al-Husayn Muslim. Com frequência, ao se falar dessas coleções de histórias, define-se  usando a palavra Sahih (por exemplo Sahih Bukhari), que significa “autêntico” em Árabe. Qualquer citação utilizada terá como fonte estes dois hadices “canônicos”, se bem que há outros quatro que se consideram “confiáveis”.
Os estudiosos do Islã frequentemente buscam entre as recompilações dos hadices pouco confiáveis para encontrar mais informação sobre a vida de Maomé que não encontram nos hadices mais conhecidos e respeitados. No entanto, não se aceitará como correta nenhuma informação que contradiga o dito em Sahih Bukhari ou em Muslim. A ideia de que uma jihad “maior” significa “se esforçar para melhorar” provém de uma recompilação pouco confiável de hadices[1].

O Corão
De certo modo, o Corão é o mais importante dos três livros. Representa aproximadamente 18% da doutrina islâmica, inclusive pode ser até menos se eliminarmos a quantidade de repetições que contém. Ainda assim é muito relevante porque trata da palavra literal de Deus, sua última mensagem e seus fieis seguidores e é perfeito em todos os sentidos.
Para dar outro exemplo da seriedade com que os muçulmanos tratam este tema, os fabricantes de tapetes persas que criam desenhos incrivelmente bonitos e complexos com lã e seda, sempre deixam uma pequena falha nos tapetes (ainda que não sejamos capazes de encontrar) porque acreditam que só o Corão é perfeito e por isso, nada mais deveria ser.
Para reforçar este nível de importância, vou destacar as citações que forem extraídas do Corão.
O Corão não é similar à Bíblia, que se pode entender apenas lendo. Em primeiro lugar, não foi arrumado na ordem cronológica. Os capítulos estão ordenados por seu tamanho, os primeiros sendo mais compridos e os últimos mais curtos, para que fique mais fácil de memorizar.
Só por esse motivo, sua leitura já deveria ficar mais confusa, mas para tornar as coisas ainda mais complicadas, os versos escritos primeiro ficam substituídos ou ab-rogados pelos que foram escritos por último.
Maomé disse que o Corão era literalmente a palavra de Deus. Depois as pessoas se deram conta de que algumas partes do Corão contradiziam outras. Quando lhe perguntaram isso, Maomé respondeu com outros versos:

2:106 Os versículos que ab-rogamos ou desprezamos neste Livro, Nós os substituimos por outros, iguais ou melhores. Não sabeis que Deus tem poder sobre tudo?  

De fato, até 225 versos do Corão são substituídos por versos posteriores.
Como o Corão não foi compilado (ajuntado) seguindo uma ordem cronológica e dado que há versos que anulam os anteriores, fica impossível compreender seu significado sem saber a ordem em que foi escrito. Para isto é necessário ler os outros textos sagrados do Islã: a Sira e os Hadices.
Outro obstáculo para a compreensão do Corão é o fato de os muçulmanos afirmarem que seu significado não se pode traduzir a nenhum outro idioma. Claro que isso é ridículo. O Corão já foi traduzido muitas vezes e todas estas traduções são bastante similares. O Corão está escrito em forma de poema, o que facilita a tarefa de memorizá-lo. Não obstante, quando se traduz para outra língua, perde-se a forma poética mas permanece o significado que encerra.
Tão somente um em cada cinco muçulmanos fala Árabe e destes, muito poucos entendem com perfeição o Árabe de 1300 anos atrás em que se escreveu o Corão. Por isso, estudar o Corão é complicado inclusive para os muçulmanos. Para os kuffar (os não muçulmanos) é ainda mais difícil. Até há pouco tempo, o Corão, assim como os outros livros sagrados do Islã nunca haviam sido separados em partes que depois voltaram a ordenar para dar uma ideia mais clara e concisa do conteúdo e fazer com que qualquer secular possa entendê-lo.
Pode parecer tentador pensar nestes pontos como pequenas manias de uma religião que no fundo é similar a nossa. Também é certo que a Igreja Católica se negou em sua época a aceitar qualquer tradução da Bíblia que não fosse a versão em Latim. No entanto, uma vez que superamos essas barreiras e nos encontramos com a verdadeira mensagem do Islã, fica clara a razão de tudo isto.

Ainda que Maomé assegurasse que o Corão era a palavra final de Deus e que continha tudo o que necesitamos saber, na realidade seu âmbito é bastante limitado. Por isso, apesar de ser o livro sagrado mais venerado, se nos centrarmos no ponto de vista da compreensão do texto, talvez seja o menos importante. O certo é que não há nem mesmo muita informação no Corão sobre os famosos cinco pilares do Islã. O que o Corão nos repete em várias ocasiões é que para ser um verdadeiro muçulmano é necessário seguir o exemplo de Maomé, exemplo que se encontra na Sira e no Hadith (a Sunna) de Maomé.


[1] Abu Fadl, jihad  «maior» e jihad  «menor»

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