sábado, 7 de novembro de 2015

31 O Projeto



O projeto da Irmandade Muçulmana, por Patrick Poole[1]
Revista FrontPage, quinta–feira, 11 de maio de 2006.


As pessoas poderão pensar que se as autoridades encarregadas de fazer cumprir o direito internacional e as agências de inteligência ocidental tivessem descoberto um documento há vinte anos, e que tal documento revelasse um plano altamente secreto desenvolvido pela organização islâmica mais antiga, com a rede de terrorismo mais ampla do mundo, para lançar um programa de invasão cultural que daria lugar em seu momento à conquista do Ocidente, copiando as táticas empregadas pelos islamistas durante mais de duas décadas; poderia se esperar que esta notícia ocupasse as manchetes do New York Times, Washington Post, London Times, Le Monde, Bild e A República.
Mas se engana quem pensa que aconteceria isso. De fato, as autoridades suíças descobriram esse documento durante uma incursão em novembro de 2001, dois meses depois do horror do 11 de setembro. Desde então, a informação sobre este documento, conhecido nos círculos de luta contra o terrorismo como “O projeto”, assim como os debates sobre seu conteúdo, ficaram limitados ao mundo secreto da comunidade de inteligência ocidental. Graças ao trabalho de um intrépido jornalista suiço, Sylvain Besson do jornal Le Temps, e ao livro que publicou em outubro de 2005 na França, A Conquista do Ocidente: o projeto secreto dos islamistas, finalmente a informação sobre “O Projeto” foi levada ao público. Um funcionário ocidental que Besson cita no livro descreveu “O Projeto” como “uma ideologia
totalitária de infiltração que representa, ao final, o perigo mais sério para as sociedades europeias”.
Agora, os leitores da revista FrontPage serão os primeiros a ler a tradução completa do projeto.
O que as agências de inteligência ocidentais sabem sobre “O Projeto” começa com uma incursão em uma vila de luxo em Campione, Suíça, em 07 de novembro de 2001. O alvo era Youssef Nada, diretor do Banco Al-Taqwa de Lugano, que mantinha uma associação ativa com a Irmandade Muçulmana, considerada como um dos movimentos islamistas mais importantes e mais antigos do mundo, foi fundado por Hasan al-Banna em 1928 e seu lema é: “Alá é nosso objetivo; o Profeta é nosso líder, o Alcorão é nossa lei; a jihad é nosso caminho, morrer por Alá é nosso maior desejo”.

As forças da ordem de Suíça levaram a cabo a incursão cumprindo uma petição da Casa Branca durante as primeiras medidas severas que se tomaram para cortar o financiamento terrorista depois dos atentados do 11 de setembro. Os investigadores americanos e suíços haviam seguido o papel que desempenhava Al-Taqwa nas operações de lavagem de dinheiro e financiamento de uma ampla gama de grupos terroristas, entre os que se incluíam Al-Qaeda, HAMAS (a divisão palestina da Irmandade Muçulmana), o GIA na Argélia e Ennahda em Túnis.
Entre os documentos que se apreenderam durante a operação na vila suíça de Nada se encontrava um plano de quatorze páginas escrito em árabe e com data do 1 de dezembro de 1982, que perfilava uma estratégia de doze pontos para “estabelecer um governo islâmico na Terra” e que se chamou “O Projeto”. De acordo com o testemunho de Nada às autoridades suíças, o documento não assinado foi escrito por “investigadores islâmicos” associados com a Irmandade Muçulmana.
O que faz com que “O Projeto” seja tão diferente da ameaça habitual de “morte aos Estados Unidos!”, “morte a Israel!” e “estabelecer o califado mundial” (que nós tanto encontramos na retórica islâmica), é o fato de que representa um modo flexível, com múltiplas fases e de longo prazo para levar a cabo a “invasão cultural” do Ocidente. Recomenda o uso de diversas táticas que vão desde a imigração, infiltração, vigilância, propaganda, protesto, engano, legitimidade política e terrorismo. O projeto tem sido o “plano mestre” da Irmandade Muçulmana durante mais de duas décadas. Tal e como
se pode ver em vários exemplos em toda a Europa, incluindo o reconhecimento político de organizações paralelas ao governo islamista na Suécia, a jihad contra os cartunistas na Dinamarca, a Intifada queimando carros em Paris e os atentados terroristas do sete de julho em Londres, o plano que expõe “O projeto” teve muito êxito.
Ao invés de se centrar no terrorismo como o único método de ação de grupo, como acontece com Al Qaeda, o uso do terror é melhor, e de um modo completamente pós moderno, uma multiplicidade de opções disponíveis para levar a cabo uma infiltração e confrontação progressiva que, em seu momento, leve ao estabelecimento do domínio islâmico do ocidente. As seguintes táticas e técnicas são algumas das recomendações que figuram no Projeto:

1) Estabelecer contatos e coordenar ações entre organizações islâmicas similares.
2)  Evitar alianças públicas com organizações e indivíduos terroristas conhecidos para manter uma aparência de “moderação”.
3)  Infiltrar-se nas organizações muçulmanas existentes e se fazer no controle para dirigi-las em direção aos objetivos coletivos da irmandade.
4)  Utilizar a mentira para ocultar os objetivos desejados das ações islamistas, sempre que não entre em conflito com a lei Sharia.
5) Evitar conflitos sociais com os ocidentais a nível local, nacional ou internacional que possam danificar a capacidade a longo prazo de ampliar a base do poder islâmico no Ocidente ou que possa provocar uma resposta contra os muçulmanos.
6)  Estabelecer redes econômicas que permitam o financiamento do trabalho de conversão do Ocidente, incluindo o apoio a administradores e trabalhadores em tempo integral.
7)  Levar a cabo tarefas de vigilância, obtenção de dados e estabelecer instalações de armazenamento e recompilação de dados.
8)  Instalar um sistema de vigilância para monitorar os meios de comunicação ocidentais para avisar assim aos muçulmanos de “tramas internacionais contrárias”. 
9) Cultivar uma comunidade intelectual islâmica que inclua o estabelecimento de grupos de reflexão e de defesa, que se ocupe da publicação de estudos “acadêmicos” para legitimar a postura islamista e para elaborar uma crônica da história dos movimentos islamistas.
10) Desenvolver um plano integral de 100 anos para conseguir o avanço da ideologia islâmica em todo o mundo.
 

11)  Encontrar o equilíbrio entre objetivos internacionais e flexibilidade local.
12)  Construir amplas redes sociais de escolas, hospitais, organizações de beneficência dedicadas aos ideais islamistas para que os muçulmanos no Ocidente tenham contato constante com o movimento.
13)  Envolver ideologicamente a muçulmanos comprometidos nas instituições eleitas democraticamente em todos os níveis no Ocidente, incluindo governos, ONG’s, empresas privadas e sindicatos.
14)  Utilizar como instrumentos as instituições ocidentais até que se convertam e estejam a serviço do Islã.
15)  Esboçar constituições, leis e políticas islâmicas para sua implantação em um dado momento.
16)  Evitar o conflito dentro dos movimentos islamistas em todos os níveis, até no desenvolvimento de processos para a resolução de conflitos.
17)  Constituir alianças com organizações “progressistas” ocidentais que compartilhem objetivos similares.
18)  Criar forças de segurança autônomas para proteger aos muçulmanos no Ocidente.
19)  Fomentar a violência e manter os muçulmanos que vivem no Ocidente com uma “mentalidade de jihad”.
20)  Apoiar os movimentos da jihad no mundo muçulmano predicando, através de propaganda, pessoal, financiamento e apoio técnico e operativo.
21)  Fazer com que a causa palestina se converta em um problema internacional capaz de criar uma brecha para os muçulmanos.
22)  Adotar a liberação total da Palestina de Israel e a criação de um estado islâmico como pilares chave do plano para a dominação islamista do mundo.
23)  Instigar uma campanha constante que incite aos muçulmanos ao ódio contra os judeus e que rejeite qualquer debate possível sobre conciliação ou coexistência.
24)  Criar de maneira ativa células terroristas da jihad dentro da Palestina.
25) Enlaçar as atividades terroristas com o movimento terrorista internacional.
26)  Conseguir suficientes fundos para perpetuar e dar apoio a jihad em todo o mundo.


Ao ler “O Projeto”, a pessoa deve ter em conta que foi escrito em 1982, quando as tensões atuais e as atividades terroristas no Oriente Médio apenas começavam. Em muitos sentidos, “O Projeto” é um plano extremamente profético ao perfilar a maior parte da ação islamista, bem seja a levada a cabo pelas organizações islamistas “moderadas” ou por grupos claramente terroristas, nas duas últimas décadas.
Por enquanto, quase tudo o que se sabe publicamente sobre “O Projeto” devemos ao trabalho de investigação de Sylvain Besson, incluindo seu livro e um artigo sobre o tema que se publicou no jornal suíço Le Temps sob o título “L'islamisme à la conquête du monde (O islamismo e a conquista do mundo), no qual fazia uma resenha do livro que ainda só está disponível na edição em Francês. Ao menos um jornal no Egito, o Al-Mussawar, publicou a totalidade do texto em árabe do “Projeto” em novembro do ano passado (2012). 
A maioria dos editoriais que publicam em Inglês não mostrou o mínimo de interesse pelo “Projeto” revelado por Besson. A única menção que se pode encontrar nos meios de comunicação habituais nos Estados Unidos tem sido o segundo ponto em um artigo no Weekly Standard (20 de fevereiro, 2006) escrito por Olivier Guitta e que se intitula The Cartoon Jihad. O comentário mais amplo que se fez sobre “O Projeto” foi de um investigador e jornalista americano que reside em Londres, Scott Burgess, que publiou sua análise do documento em seu blog, The Daily Ablution. Junto com seu comentário, a tradução ao Inglês do texto francês do Projeto se publicou por partes, em forma de série, em dezembro do ano passado (Partes I, II, III, IV e Conclusão). Foi incluída a tradução integral do Inglês do Senhor Burgess neste livro com sua permissão.
Apesar da ausência de debate público sobre O Projeto, o documento e o plano que esboça foram tema de numerosas conversas entre as agências de inteligência do Ocidente. Um agente da estratégia anti terrorista dos Estados Unidos que falou com Besson sobre O Projeto e que Guitta cita no artigo do Weekly Standard é Juan Zarate assessor na luta anti terrorista da Casa Branca. Ele disse que O Projeto é o plano mestre da Irmandade Muçulmana para “disseminar sua ideologia política” e comunicou a Besson sua opinião dado que “a Irmandade Muçulmana é um grupo que nos preocupa mas não pelas ideias filosóficas e as teorias ideológicas que usa, mas porque defende o uso da violência contra civis”.
Um acadêmico reconhecido internacionalmente e especializado nas organizações terroristas, Reuven Paz, que também falou com Besson, mencionou “O Projeto” dentro do contexto histórico:

“O Projeto foi parte da carta da organização internacional da Irmandade Muçulmana, que se estabeleceu de maneira oficial em 29 de julho de 1982. Expõe um amplo plano que foi desempoeirado na década de sessenta graças a imigração dos intelectuais da Irmandade, sobre procedentes da Síria e Egito, a Europa.

Tal como Reuven Paz aponta, O Projeto foi escrito pela primeira vez pela Irmandade Muçulmana dentro do processo de refiliação da Irmandade em 1982, um período que marca um impulso ascendente na expansão internacional da organização assim como um ponto de inflexão nas fases de repressão e tolerância do governo egípcio que se vão alternando. Em 1952 a organização desempenha um papel fundamental para o Movimento dos Oficiais Livres liderado por Gamal Abdul Nasser que derrotaria ao rei Faruq, mas que perderia rapidamente o poder em favor do novo regime revolucionário devido a negação de Nasser a obedecer a petição da Irmandade Muçulmana de instituir um estado islâmico ideologicamente comprometido. De forma regular e em distintos momentos da história desde a Revolução de Julho em 1952, as autoridades do Egito proibiram a Irmandade e prenderam ou assassinaram seus líderes.
A partir da refiliação de 1982, a Irmandade Muçulmana estendeu sua rede pelo Oriente Médio, pela Europa e até pela América. Em casa, no Egito, a Irmandade Muçulmana obteve 20% mais cadeiras nas eleições parlamentares de 2005, se convertendo assim no principal partido da oposição. A divisão palestina, conhecida internacionalmente como HAMAS, se criou recentemente com o controle da Autoridade Palestina depois de ganhar 74 dos 132 assentos do Conselho Legislativo Palestino nas eleições. A divisão síria historicamente tem sido o maior grupo organizado que já se opôs ao regime de al-Assad e também contam com afiliados na Jordânia, Sudão e Iraque. Nos Estados Unidos, a Irmandade Muçulmana estão representados principalmente pela Sociedade Muçulmana Americana (MAS). 
Desde sua criação, a Irmandade Muçulmana defendeu o uso do terrorismo como um meio para conseguir os objetivos do plano de domínio do mundo. No entanto, ao ser o maior movimento popular radical no mundo islâmico, atraiu a muitos intelectuais islamistas de relevância, entre outras pessoas, Yussuf al-Qaradawi, um ulemá islamista nascido no Egito mas que vive no Catar.
Dado que é uma das principais figuras espirituais da Irmandade Muçulmana e dos ulemás islamistas radicais (que contam com seu próprio programa semanal na Al-Jazeera), al-Qaradawi foi um dos grandes defensores dos atentados suicidas com bomba em Israel e de dois atentados terroristas contra interesses ocidentais no Oriente Médio. Tanto Sylvain Besson como Scott Burges proporcionam comparações detalhadas entre a publicação de Qaradawi de 1990,  Priorities of the Islamic Movement in the Coming Phase (Prioridades do movimento islâmico na fase seguinte) e O Projeto, que foi publicado oito anos antes das prioridades de al-Qaradawi. Eles notaram as surpreendentes semelhanças na linguagem empregada e os planos e métodos que defendem ambos documentos. Se especula que al-Qaradawi pôde usar O Projeto como exemplo para sua própria obra ou que sua mão fosse uma das que participou na sua redação em 1982. Talvez seja uma coincidência, mas al-Qaradawi era o quarto maior acionista do Banco al-Taqwa de Lugando, cujo diretor, Youssef Nada, tinha em sua posse O Projeto quando foi encontrado. Desde 1999, al-Qaradawi foi proibido de entrar nos Estados Unidos devido a sua conexão com organizações terroristas e sua defesa pública do terrorismo.
Para os que leram O Projeto, o mais preocupante não é que os islamistas hajam desenvolvido um plano para dominar o mundo; os especialistas afirmam que as organizações islamistas e os grupos terroristas operavam seguindo um conjunto combinado de princípios gerais, redes de contato e metodologia. O que é surpreendente é ver como foi eficaz a implantação do plano islamista para a conquista que aparece traçado no Projeto desde mais de duas décadas. Também é motivo de preocupação analisar a ideologia que serve de base para o plano, pois incita ao ódio e a violência contra a população judia em todo o mundo, o recrutamento e subversão deliberada de instituições públicas e privadas do Ocidente contra seus vizinhos e concidadãos, a aceitação da violência como uma opção legítima para conseguir os objetivos e a inevitável realidade da jihad contra os não muçulmanos e
o fim último de instituir pela força o governo do Islã através de um califado regido pela lei Sharia no Ocidente e, com o tempo, em todo o mundo.

Se a experiência vivida durante a última quarta parte do século passado na Europa e nos Estados Unidos nos serve de pista, os “investigadores islamistas” que escreveram O Projeto há mais de duas décadas devem estar muito contentes ao ver como seu plano a longo prazo para conquistar o Ocidente e ver a bandeira verde do Islã ondear o vento sobre seus cidadãos, se está cumprindo de uma forma tão eficiente. Se os muçulmanos tiverem o mesmo êxito nos próximos anos, nós ocidentais deveríamos começar a usar as liberdades pessoais e políticas que temos agora antes que seja tarde demais.
 
 


  


[1] FrontPageMagazine.com | Thursday, May 11, 2006

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