sábado, 7 de novembro de 2015

A história de Maomé- Introdução






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Por que uma pessoa que não é muçulmana iria se interessar em ler a história de Maomé? Para muitos ocidentais, a vida do autoproclamado profeta[1] que morreu há mais de 1300 anos atrás, em uma parte distante do mundo, pode ser chata e até mesmo totalmente irrelevante. A verdade é que não é nem uma coisa nem outra. Durante sua vida, Maomé estabeleceu um movimento religioso e político que chamou de Islã, que abrange um quarto da população mundial e é de longe a religião que mais cresce no mundo. É importante destacar que na atualidade a influência desta religião alcança mais aspectos da nossa sociedade do que qualquer um de nós poderia imaginar.
Depois de estudar a doutrina islâmica e sua história, eu logo descobri que quase tudo o que é transmitido a nós com relação ao Islã, suas metas e sua influência nas ações e crenças dos muçulmanos, está totalmente errado. Esta falta de entendimento tem sido a causa raiz das horrendas falhas políticas em áreas tais como “a guerra ao terror”, a política do Oriente Médio, o conflito árabe-israelense e outros, que tendem a dominar nossos jornais diários.
Também é claro que a razão para essas falhas é quase uma total falta de conhecimento da doutrina islâmica entre os setores da sociedade ocidental; dos políticos, acadêmicos, jornalistas, professores, e as pessoas que transitam pelas ruas. Dado o aumento das ameaças dos “extremistas” islâmicos e o número crescente de conflitos envolvendo muçulmanos, isto seria uma falha de proporções épicas.
Foi precisamente por esta razão que eu escrevi este livro. Eu queria que fosse bem lido, e, portanto, eu tentei fazê-lo tão simples e divertido quanto possível. Também é um livro curto e evita discursões teológicas acirradas. Se você tem um interesse no que há além das notícias e das histórias que ouvimos todos os dias, você irá achar este livro interessante e relevante.
Ao final, você deverá ter um bom domínio da doutrina do Islã, o que essa doutrina espera dos muçulmanos e como ela afeta a sociedade na qual os muçulmanos vivem. E mais importante, este conhecimento dará uma nova compreensão dos tópicos envolvendo o Islã. Os conflitos ao redor do mundo, o terrorismo, a imigração, o tratamento das mulheres, etc não podem ser bem entendidos sem uma compreensão da doutrina islâmica.
Os especialistas sempre concordaram que a chave para entender o Islã é a história da vida de Maomé. Isso é bom, pois Maomé era um personagem extremamente interessante.
Ao contrário de qualquer outro profeta, Maomé também foi um líder político e militar; insistindo que os muçulmanos deveriam lutar quando chamados a colocar o Islã no controle de todo o mundo. Durante os últimos nove anos de sua vida, ele e seus seguidores ficaram envolvidos em atos de conquistas violentas, com uma média de um episódio a cada sete semanas. Na época em que ele morreu, ele era o rei de toda a Arábia sem deixar nem mesmo um só inimigo vivo. A chave para seu sucesso foi um novo sistema de guerra chamado Jihad que os ocidentais frequentemente chamam de “guerra santa”, mas que é de fato mais do que isso.
O curioso é que mesmo que saibamos mais sobre Maomé do que sobre qualquer outro líder religioso[2], muito pouca gente conhece sua história, mesmo no mundo islâmico. Isto não é um acidente. A vida de Maomé é o exemplo perfeito para todos os muçulmanos seguirem, e ainda assim é a base para a religião do Islã em si. Você poderia esperar que a maioria dos muçulmanos já estivesse familiarizada com a história de Maomé, assim como os cristãos estão familiarizados com a história de Jesus, mas não é o caso.
Os jovens muçulmanos são ensinados a recitar o Alcorão em Árabe, mas são severamente desencorajados a entender seu significado (quatro quintos deles nem mesmo fala Árabe moderno, quanto mais o Árabe arcaico do Alcorão). De maneira geral, somente aqueles muçulmanos que estão comprometidos o suficiente para se tornarem líderes religiosos, ou imames, aprendem a verdade sobre a vida de Maomé. Do resto se espera que sigam instruções desses líderes, que mantêm esses conhecimentos para si mesmos.
Hoje, as populações muçulmanas estão explodindo ao redor do mundo, enquanto que as taxas ocidentais de natalidade despencam. Mais de 90% de todas as guerras e conflitos armados de hoje envolvem muçulmanos, e quase todos os ataques terroristas (mais de vinte mil em apenas nove anos desde o 11 de Setembro[3]) são levados a cabo por muçulmanos jihadistas. O maior e mais influente grupo de países nas Nações Unidas (apesar de carecer hoje de poder de veto) é formado pelos cinquenta e sete países da organização para a Cooperação Islâmica, que também controla a melhor parte das decrescentes reservas de petróleo do planeta.
Nos próximos anos, estas tendências vão se acelerar com certeza, o que outorgará mais poder ao Islã, não só em relação às vidas dos muçulmanos como também com as vidas dos não muçulmanos, que experimentam mais restrições frutos das leis e demandas originadas por esta influência em crescimento. Se alguém deseja saber mais sobre como esse poder e essa influência crescente do Islã pode afetar a vida do leitor, de seus filhos e de seus netos (acredite, isso deveria interessar), então este livro é a forma mais fácil e rápida de fazer isso. Se o que quer é obter um conhecimento mais sério sobre um tema tão complexo, este livro é um bom primeiro passo que o guiará na direção correta e servirá de base sólida.
Tony Blair, George Bush e outros líderes políticos do mundo, assim como estudiosos, jornalistas e líderes de opinião do mundo ocidental insistem que o Islã é uma religião de paz com uns poucos radicais violentos, furiosos com a política exterior do Ocidente.
O Aiatolá Khomeine dedicou toda sua vida ao estudo da doutrina islâmica. Converteu-se no líder espiritual e religioso da República Islâmica do Irã, além de ser a máxima autoridade religiosa para o mundo xiita (as diferenças entre o Islã xiita e sunita são bastante superficiais). Isso foi o que ele disse sobre o Islã e a guerra: 

“Aqueles que estudam a Guerra Santa Islâmica compreenderão porque o Islã quer conquistar o mundo inteiro. Aqueles que não sabem nada de Islã afirmam que ele se posiciona contra a guerra. Essas pessoas são tolas”.

Convido o leitor a ler a história de Maomé e decidir por sua própria conta quem tem razão.


[1] Maomé insistiu que ele era o último profeta de Alá (Deus). As pessoas que acreditam nele são chamadas de muçulmanos (muslims). Os que não acreditam são chamados de infiéis (kaffir).

[2] Centre for the Study of Political Islam. (Centro de Estudos para o Islã Político)

1 Primeiros anos



(Se o leitor pensa que escrevi este livro com um propósito sinistro ou para fomentar dano aos muçulmanos, por favor, comece pelo final e leia primeiro o apêndice).

Maomé nasceu no ano de 570 d.C em uma cidade chamada Meca, situada no país que é hoje a Arábia Saudita. Naquela época, a Arábia não era um país, tratava-se de uma área habitada por uma série de tribos. Era, e ainda é, em sua maior parte, um lugar quente, seco e inóspito em que as pessoas sobreviviam graças ao pastoreio de ovelhas e cabras e às tamareiras que se cultivavam ao Norte. As inimizades entre famílias eram frequentes e, em geral, se dirimiam fazendo-se cumprir o princípio do olho por olho e dente por dente. Em algumas ocasiões se pagava com “moeda de sangue” (a morte de outra pessoa) para resolver um assassinato.
Meca era uma cidade santa e um centro religioso para todo tipo de religião. Havia um edifício chamado Caaba, onde se encontrava uma pedra sagrada, que se acredita provir de um meteorito. Também havia um poço, cuja agua se considerava sagrada e tinha propriedades medicinais. Tribos de todas as partes da Arábia se dirigiam a Meca para venerar diversas deidades. Inclusive havia alguns cristãos e judeus que viviam na cidade; era tudo multicultural. Maomé provinha da nobreza de Meca, os Coraixitas; e seu clã era os Hachemitas. O principal deus dos Coraixitas era Alá, o deus da lua (por isso todas as mesquitas têm uma lua crescente no alto), ainda que se rendesse culto a muitos outros deuses. Como este era um lugar sagrado, lutar em Meca não era permitido e as brigas aconteciam fora da cidade.
O pai de Maomé morreu antes que ele nascesse e sua mãe faleceu quando ele tinha cinco anos. Seu avô o criou durante o tempo em que ficou vivo e depois que morreu, o tio Abu Talib se encarregou de seu cuidado. Abu Talib era um membro poderoso dos Coraixitas. Ao que parece foi uma figura benevolente que, durante sua vida, protegeu Maomé e o tratou muito bem.
O principal negócio dos Coraixitas era a religião e também ganhavam dinheiro com o comércio. Ao crescer, Maomé foi contratado por uma rica viúva chamada Cadija que comercializava com a Síria. Maomé se ocupava das caravanas e fazia trato com os sírios. A Síria era nessa época um país cristão e muito mais sofisticado e cosmopolita que a Arábia. De fato, era muito mais sofisticada e cosmopolita que a maior parte da Europa. Os árabes tomaram o alfabeto dos cristãos sírios, muito embora a escrita estivesse restrita unicamente às transações comerciais. Nesses anos não haviam livros escritos em Árabe. As tradições religiosas eram transmitidas de forma oral e os cristãos e judeus eram conhecidos como “povo do livro”, posto que possuíam as Escrituras. Maomé se deu bem como comerciante e obteve bons lucros para Cadija. Depois de um tempo, Cadija lhe propôs matrimônio e juntos tiveram quatro filhas e dois filhos [1].
Devido a este ambiente, Maomé conhecia diferentes religiões. Logicamente, estava muito familiarizado com os rituais de seu próprio clã, os árabes pagãos de Meca e muitos desses rituais foram depois incorporados ao Islã. Também havia judeus em Meca e o primo de sua mulher era cristão.  Dado que a maioria das religiões não contava com a palavra escrita, não era raro que as pessoas tivessem diferentes versões de cada religião ou que começassem seu próprio culto.

Dados importantes:
Ser muçulmano significa aceitar que Maomé era o ser humano perfeito. Sua vida é o exemplo a seguir em todos os aspectos possíveis para todos os muçulmanos. Claro que nem todos têm muito êxito nesta tarefa mas o nível de devoção de um muçulmano se mede na proporção em que ele segue o exemplo e os ensinamentos de Maomé. Isto é algo que não se discute no Islã, e por esse motivo é importante conhecer sua história. Inclusive existe uma palavra para descrever o comportamento de Maomé: “Sunna”.


Nota:
Algumas pessoas sentirão que não deveriam ler este livro por seus princípios morais, assim antes de prosseguir, eu gostaria de deixar algo bem claro: sou um grande defensor da liberdade de crença. Pode-se acreditar no que quiser e render o culto do modo que considere mais oportuno. Se um grupo de cristãos deseja orar de um modo estranho ou pouco frequente, isso não me incomoda nem um pouquinho.
Todavia, se este grupo se constitui como uma organização política e intenta influenciar o modo em que funciona a sociedade, então é muito provável que eu preste atenção. Se não estou de acordo com sua visão política ou com seus métodos, farei valer meu direito de criticar essas atividades. Esta não é uma crítica religiosa, é uma crítica política.
Este livro não está interessado no aspecto religioso do Islã e eu  não vou comentar muito sobre suas crenças ou práticas religiosas, exceto quando tenham um aspecto político. O que vou realmente tratar são os objetivos, propósitos e métodos políticos que ficam claramente estabelecidos na doutrina islâmica. O modo como os muçulmanos interagem entre si e com Deus é um assunto religioso e não me interessa. O modo como eles interagem com os não muçulmanos é um tema político e este sim me interessa. Na medida em que a história se desenrolar, ficará claro o motivo (obs.: a palavra “kafir” significa não muçulmano. O plural de Kafir é “kuffar”, ou seja, são os descrentes no Islã, ainda que possam ter outras religiões.NT).

Bibliografia:
A fonte original da maior parte deste material é um livro chamado Sirat Rasul Allah (A vida do profeta de Alá) ou simplesmente A Sira de Ibn Ishaq, que é o estudioso muçulmano mais venerado e digno de confiança de todos os tempos. Esta obra foi escrita aproximadamente cem anos depois da norte de Maomé (por isso é a biografia mais antiga do profeta que chegou até os nossos dias) e é o relato biográfico definitivo da vida de Maomé para aqueles que estudam o Islã.

Foi traduzido ao Inglês em 1955 por um professor de Árabe, A. Guillaume, com o título de The Life of Mohammed. Foi possível completar a tradução graças a ajuda de vários professores de Árabe. Ainda é a tradução inglesa mais utilizada tanto por muçulmanos quanto por não muçulmanos.

Esta tradução direta tem sido simplificada e reordenada de forma excelente por uma organização chamada Centre for the Study of Political Islam (Centro de Estudos para o Islã Político). Também foram incluídos materiais de outras fontes confiáveis que apontam a clareza e o contexto a uma história que antes exigia muito estudo se alguém quisesse entendê-la. O título do livro que publicaram em Inglês é Mohammed and the Unbelievers (Maomé e os descrentes). A maior parte das citações utilizadas neste livro provém dessa fonte (que faz referencia à Sira com um sistema de números na margem contida no texto original).


[1] Só uma de suas filhas, Fátima,  chegou a idade adulta.

2 A fundação do Islã



Quando tinha aproximadamente quarenta anos, Maomé começou a fazer retiros espirituais que duravam meses e nos quais rezava e levava a cabo práticas religiosas dos coraixitas. Começou a ter visões nas quais o anjo Gabriel o visitava. Afirmava que Gabriel lhe mostrava as Escrituras e lhe dizia que tinha que recitá-las para assim ensinar a seus seguidores e se converteu no que hoje conhecemos pelo nome de Corão (ou Alcorão). Sua mulher Cadija o apoiou e foi a primeira pessoa a se converter a nova religião do Islã, que em Árabe significa “submissão”. Depressa, o filho adotivo de Maomé e outros membros da família seguiram o exemplo de Cadija. Com o tempo, também se uniram pessoas que não pertenciam à família. A medida em que Maomé tinha mais seguidores, foi ganhando confiança e não demorou muito antes de começar a pregar sobre sua nova religião de forma bastante desenvolta.  
No início isto não incutiu nenhum problema. Os coraixitas eram muito tolerantes com as distintas religiões, pois deste modo ganhavam dinheiro. Portanto, era algo bom se a nova religião de Maomé atraísse mais gente ao culto.
No entanto, logo as coisas começariam a se distorcer, quando o tom dos ensinamentos de Maomé deixou de ser tolerante. Maomé ensinava que sua religião era correta, o que era aceitável; mas dizia que o resto das religiões era falsa, o que era problemático. Ele ria das outras religiões e ridicularizava seus deuses. E o pior para os coraixitas era o fato de que Maomé afirmava que como os antepassados deles não eram muçulmanos, eles ardiam no inferno. Esta ideia era intolerável para os coraixitas que consideravam que os antepassados eram sagrados. Ele pediram que parasse com isso e voltasse a promover sua religião sem causar dano a deles.

Quando ele se negou, os coraixitas quiseram matá-lo. Para a desgraça deles, Maomé ainda contava com a proteção de seu poderoso tio Abu Talib. Os coraixitas tentaram convencer o tio a entregar Maomé para que pudessem matá-lo, mas ele se negou de forma enérgica.
Claro que Maomé era um orador carismático, que cada vez tinha mais seguidores, e isto aumentou as divisões dentro da comunidade. Havia brigas e disputas constantes. Meca era uma cidade pequena e todos se conheciam.
O que até então tinha sido uma comunidade pacífica e produtiva, agora se encontrava dividida entre os coraixitas e os novos conversos que se chamavam muçulmanos (ou seja muslim- “aquele que se submete”).
Alguns dos muçulmanos menos poderosos e, sobretudo, os escravos que haviam se convertido sofreram nas mãos dos coraixitas; no entanto, o tio de Maomé foi capaz de evitar que lhes acontecessem danos graves. Também alguns cidadãos de Meca que se converteram eram parte dos membros mais fortes e poderosos da comunidade e cada vez ficava mais complicado para os coraixitas resolverem o problema que Maomé levantava. Mesmo que ele houvesse chamado o povo de estúpido, e houvesse insultado seus deuses e afirmado que seus antepassados ardiam no inferno, foram incapazes de detê-lo.
Os coraixitas tentaram ser razoáveis com Maomé e inclusive fazer acordo com ele. Ofereceram dinheiro e a liderança da tribo se ele deixasse de pregar. Maomé se negou, insistindo que ele era o único mensageiro de Alá e não tinha escolha.

Comentários do autor:
Antes que eu prossiga falando sobre o Islã, quero fazer uma breve revisão do Cristianismo. Quer se deseje ou não, se alguém foi criado em um país ocidental, sua ética e o seu conceito de certo e do errado estão baseados nos ensinamentos do Cristianismo; o mesmo sucede com as leis criadas pela nossa sociedade. As pessoas que cresceram em culturas diferentes podem ter uma definição diferente do que é o certo e o que é errado. Por exemplo, o que um viking considerava como correto, hoje em dia provavelmente seria visto como antissocial na Dinamarca.
O Islã tem um sistema moral. Para explicar os princípios morais, às vezes terei que compará-los com os cristãos, não porque eu esteja promovendo o Cristianismo, mas é que simplesmente a maioria dos ocidentais (e eu me incluo neste grupo) compreenderá melhor do que se eu fizer referência com o Hinduísmo ou o Budismo.
A base da ética cristã (e judaica) se encontra nos Dez Mandamentos, que seguramente todos conhecem: não roubar, não enganar, não mentir, não matar, não desejar o que é dos outros, etc. Estes mandamentos culminam com a regra de ouro, que é:

«Tratar os outros como gostaria de ser tratado(a)».

Da regra de ouro provém o resto dos princípios como a liberdade de expressão, a força da lei, a igualdade, a tolerância, etc, que servem de fundamento das leis e dos costumes da maioria dos países ocidentais. Ao crescer em uma sociedade baseada na regra de ouro, temos a acreditar que é uma regra universal e  que não chega nem perto de ser uma ideia radical. No entanto, o homem que popularizou esta regra há 2000 anos acabou pregado em um madeiro por isso.
Apesar disto, a ideia se estendeu e continuou ganhando adeptos. Quando Maomé nasceu, o Cristianismo era a religião dominante na maior parte do Oriente Médio, do Norte da África e Europa. Não obstante, a regra de ouro e os dez mandamento NÃO SÃO a base de qualquer religião e sociedade. Como logo veremos, fica claro que tampouco são a base do Islã.
A dificuldade na hora de explicar o Islã é que, de certo modo, ele é como um quebra cabeça gigante. Eu poderia mostrar só uma peça do mesmo e dizer, por um exemplo, que é o nariz de um tigre. Só que não parecerá com um nariz de tigre até que se coloque o resto das peças para que vejamos como é na realidade. Algumas das coisas que escrevo podem parecer estranhas, e até mesmo ridículas, para quem foi criado em um país ocidental, com princípios morais baseados no Cristianismo, mas siga em frente. Com um pouco de sorte, quando terminar este livro você será capaz de ver cada uma das peças no contexto geral.

3 O Islã cresce



Maomé permaneceu em Meca durante treze anos depois de se proclamar profeta. A primeira parte do Corão foi escrita neste período e se conhece como Corão de Meca. As revelações que contém o Corão de Meca mencionam repetidas vezes que Maomé é o mensageiro de Deus e todos que não acreditam nele arderão no inferno. Também havia histórias de pessoas do passado, que haviam rejeitado os profetas que eram enviados. Estas pessoas foram destruídas por isso e agora ardem no inferno.
Segundo Maomé, muitos dos profetas bíblicos, como Abraão, Moisés e até Jesus (de quem dizia ser um profeta e não o Filho de Deus) eram muçulmanos. Ainda assim, nunca encontraram menção alguma à religião islâmica antes de Maomé. Também ele dizia que era o último dos profetas e que o Corão era a mensagem final de Deus. 
O Corão contém uma série de histórias tiradas da Bíblia e contadas de forma diferente para mostrar outra pespectiva. Ao voltar a contar as histórias, a mensagem sempre tratava sobre o modo em que os judeus haviam ignorado aos profetas e, por isso, eram castigados por Deus.
Esta é a parte religiosa do Corão, composta por histórias bíblicas e temas religiosos. Maomé usava os temas básicos com muita habilidade para dar respostas a maioria de perguntas levantadas por seus críticos.
Fica claro que Maomé era um homem muito carismático e seguro de si mesmo. Era capaz de dotar sua mensagem de uma forma poética e muito bonita. Todo o Corão está escrito como um poema, o que o torna mais fácil de memorizar. Por isso atraiu um grande número de seguidores e, a medida em que aumentava seu poder, também crescia seu desejo de mantê-lo. Era um homem extremamente narcisista e ao que parece, só se interessava em ser o
objeto da adoração. Não parecia incomodado por ter sido o causador da divisão de sua cidade e inclusive de sua própria família.
Quando seu tio jazia moribundo na cama, ele murmurou algo e logo morreu. O acompanhante de Maomé disse que pensava que o tio havia aceitado o Islã. No entanto, Maomé não o escutou com clareza e declarou portanto que seu tio arderia no inferno. Abu Talib lhe havia criado desde que era pequeno e lhe havia conseguido o primeiro emprego que logo renderia um bom matrimônio. Depois, havia protegido a vida de Maomé de todos os perigos que ele enfrentava por suas ações. Mas como não havia se submetido ao Islã, Maomé declarou que ele iria para o inferno.
No mesmo ano também morreu sua mulher Cadija. Ele então se casou com uma viúva chamada Sauda e se comprometeu com uma menina de seis anos chamada Aisha.

Dados importantes:
Os muçulmanos obviamente creem que Maomé é o profeta definitivo de Alá. Não obstante, desde o ponto de vista de um não muçulmano, ele era apenas um gênio que desenhou e definiu o Islã com um único propósito, fazer com que todo mundo o venerasse (ou que venerasse a Alá através dele, o que vem a ser o mesmo em linhas gerais). Para conseguir, ele se assegurou que o Islã não pudesse mudar. Maomé insistiu no fato de que para uma pessoa ser muçulmana, devia declarar que não há Deus a não ser Alá e Maomé, seu profeta. Existem outros quatro pilares do Islã, mas este é o mais importante com esse diferencial. Este pilar é a definição do que significa ser um muçulmano. Maomé também se auto proclamou como o último profeta do Islã, fechando de forma inteligente a porta para a oportunidade de outro alguém assumir o comando da religião com o passar do tempo. Apesar de se assegurar que era o último de uma série de profetas judeus, também afirmou que os judeus não tinham nada a ver com sua religião. Maomé insistiu que os judeus (e os cristãos) haviam falsificado a Bíblia para esconder o fato de que a verdadeira profetizava sua chegada (não há provas disso). Também proibiu aos muçulmanos lerem a Bíblia ou a Torá (a Bíblia judaica). Portanto, os muçulmanos somente podiam ler sobre os profetas bíblicos como Abraão ou Moisés através da versão de Maomé, que é diferente, às vezes até de forma ilógica, das histórias da Bíblia original.

A questão é que Maomé não é só uma figura central do Islã. Maomé É o Islã. Churchill chamava a todos os muçulmanos de maometanos (os seguidores de Maomé), que é uma descrição bastante certeira. Ser muçulmano supõe crer que Maomé é um homem perfeito e que o Corão, tal e como só se revelou a Maomé, é a palavra perfeita (e única) de Alá. Por isso, um verdadeiro muçulmano segue sempre a palavra de Alá, tal como aparece no Corão e o exemplo ou as tradições de Maomé, que se conservaram em suas biografias.
Este desenho inteligente foi feito para não poder mudar. O Corão não pode ser modificado porque é a palavra perfeita de Alá e a vida de Maomé não pode ser alterada porque ele já está morto.
Os muçulmanos levam muito a sério a perfeição do Corão. Por exemplo, vários dos capítulo do Corão começam com três letras árabes. Ninguém sabe o que significam, mas nunca se eliminarão do texto posto que o Corão é perfeito e inalterável.
Para resumir assim: o Islã é Maomé, o Islã não mudou nunca e não irá mudar jamais. Para mudar o Islã seria necessário eliminar Maomé da religião e então já não se teria o Islã. Tal como Barry Sheene explica de forma eloquente: “Se meu tio fosse uma mulher então seria minha (palavra eliminada) tia”. Isso não tem lógica. O Cristianismo mudou e evoluiu porque se baseia em princípios gerais, como a regra de ouro, que se pode debater e interpretar. Não há muito debate com Maomé: ou ele fez algo ou não fez. Por isso, os que creem que o Islã deveria ou poderia mudar provavelmente acabarão decepcionados.